Como olhar criticamente o software educativo multimédia

Referências Bibliográficas:

Carvalho, A. A. (2005). Como olhar criticamente o software educativo multimédia. Cadernos SACAUSEF – Sistema de Avaliação, Certificação e Apoio à Utilização de Software para a Educação e a Formação: Utilização e Avaliação de Software Educativo, Número 1, Ministério da Educação, 69-82, 85-86.

Registo de Leitura:

Carvalho (2005) considera que o software educativo multimédia (SEM) apresenta potencialidades na aprendizagem, na motivação e na autonomia dos utilizadores. A interactividade que o software educativo exige, faz com que o utilizador se sinta envolvido na exploração do conteúdo, navegue ao seu ritmo e aceda a parte de informação de cada vez, sem ficar perdido com a quantidade de informação.

Para que possa ocorrer aprendizagem significativa com o software educativo há três factores que se condicionam mutuamente: a qualidade científica, pedagógica e técnica; a familiaridade do utilizador com o sistema informático (literacia científica) e com o conteúdo (conhecimentos prévios); o desejo que o sujeito tem de aprender.

O SEM promove a autonomia do utilizador ao permitir orientar o seu desempenho através das ajudas à navegação e do feedback que orienta o desempenho no utilizador.

A liberdade dada ao sujeito na exploração do software e a interactividade proporcionada reflectem uma teoria de aprendizagem que está subjacente à sua construção, podendo ter uma orientação mais behaviorista ou mais construtivista.

O software educativo poderá ser construído tendo por base uma orientação behaviorista, criando etapas a serem executadas, não permitindo que o utilizador passe à actividade seguinte sem ter realizado a etapa anterior. Por outro lado, o software educativo de cariz construtivista dá liberdade ao utilizador de o percorrer livremente para que possa construir o conhecimento de acordo com os seus interesses.

Carvalho (2005) apresenta algumas considerações sobre os componentes que considera pertinentes para descrever e para analisar criticamente o software educativo multimédia:

1. Caixa – deve fornecer várias indicações que vão permitir identificar o título, o ano de edição, a editora, os destinatários, a área temática, os objectivos, a língua usada nos textos e na locução e os requisitos do sistema para que se perceba se é compatível com o computador do utilizador. Se o software for específico de determinada disciplina, deve indicar o ano de escolaridade;
2. Início/apresentação – deve possibilitar ao utilizador saltar a parte da apresentação, uma vez que esta depois da primeira utilização perde o efeito de novidade;
3. Menu – deve apresentar as actividades existentes ou, pelo menos, as actividades que por sua vez se podem desdobrar em outras, disponibilizando vários níveis de detalhe de informação;
4. Navegação – deve permitir ao utilizador saber sempre onde está e como ir para um determinado local, através da informação disponível no ecrã, no título ou numa opção visível a cor diferente. Os menus, as setas e as hiperligações inseridas no texto são formas de facilitar a navegação;
5. Estrutura – Podem considerar-se três tipos de estrutura básica:
  • Linear ou sequencial em que cada nó só tem um descendente e um pai (o utilizador avança ou recua na informação, e embora não se perca, também não tem liberdade de acção);
  • Hierárquica em que de cada nó partem vários descendentes, permitindo ao utilizador a possibilidade de escolher o que quer ver. Se cada descendente só tiver ascendentes designa-se por estrutura em árvore; se alguns dos nós tiverem mais do que um ascendente designa-se por estrutura acíclica, em que o utilizador pode aceder à informação por mais de um percurso. A possibilidade do utilizador se perder aumenta, mas a liberdade de navegação é maior.
  • Rede em que o utilizador tem uma liberdade total de navegação.


A estrutura híbrida combina 2 ou 3 dos tipos indicados, podendo dar liberdade de navegação ao utilizador bem como limitar-lhe a navegação em determinados conteúdos, sobretudo quando só há uma ordem para os aprender. Este tipo de estrutura pode ser mais benéfica para a aprendizagem.
6. Actividades – as actividades ou conteúdos são indicados no menu ou em sub-menus. A exploração do conteúdo permite averiguar a correcção científica, se este é adaptado à faixa etária, ao programa curricular. As actividades devem ser fáceis de compreender e adequadas à faixa etária indicada. A ajuda deve estar acessível sem ser obrigatória a sua leitura ou audição, de forma a não aborrecer o utilizador experiente, mas poder auxiliar o utilizador que precise de ser esclarecido;
7. Interface – condiciona a interacção entre o utilizador e o software. Deve ser intuitiva, tornando-se fácil de interagir e deve ser consistente apresentando um design gráfico comum aos diferentes ecrãs, em que o menu e demais botões surgem no mesmo local, facilitando a interiorização da navegação e exploração do SEM e permitindo que o utilizador desenvolva rapidamente o modelo mental do documento, orientando-se. O tamanho e tipo de letra, o contraste entre os caracteres, o fundo e a qualidade das imagens, devem ser escolhidas de forma a que o SEM se torne fácil de ler. O utilizador deve poder ter controlo sobre a música, os efeitos sonoros, a locução ou vídeo, activando-os ou desactivando-os quando entender;
8. Ajuda – as ajudas são imprescindíveis e devem estar acessíveis para o utilizador usar quando entender. Não devem ser impostas e devem ser específicas da secção, actividade, tarefa ou jogo;
9. Sugestões – para pais, educadores e/ou professores. Podem ser apresentadas sugestões de exploração e disponibilizadas actividades complementares a serem impressas como fichas de trabalho;
10. Imprimir diplomas – podem integrar a funcionalidade de mandar imprimir um diploma que ateste o desempenho das crianças;
11. Hiperligações para sites na Web – Podem disponibilizar hiperligações para o site da editora onde colocam tarefas complementares ou estabelecem hiperligações para sites temáticos que completem a informação;
12. Ficha técnica – deve disponibilizar a ficha técnica do software educativo multimédia, por vezes, com a designação de créditos;
13. Sair do SEM – A possibilidade de sair do SEM deve estar sempre acessível. O professor ou educador deve concluir se aos objectivos explicitados na caixa do software educativo (CD ou DVD) se concretizam, indicando os aspectos que se consideraram mais positivos e os aspectos negativos, averiguando da adequação desse software ao perfil alvo (os alunos).

Em síntese, além da qualidade científica dos conteúdos, será de ter em conta o papel da estrutura, da navegação, do menu, das actividades, da ajuda, do feedback e da interface na promoção da autonomia do aluno, na liberdade de navegação e de aprendizagem do aluno.

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